Naquele dia não houve eclipse, e os eclipses solares nesse ano não eram visíveis em Portugal. Em nenhum Observatório do mundo houve qualquer registo de fenómeno astronómico para o dia 13 de Outubro de 1917. [1]
Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, matemático na Universidade coimbrã e astrónomo do Observatório Astronómico daquela instituição, dirigiu-se à dolina da Cova da Iria, então limite das localidades de Moita Redonda e Lombo de Égua, para assistir, no dia 13 de Outubro de 1917[i], àquela que seria a última das Aparições de Fátima. O denominado Milagre do Sol foi, assim, registado num texto subordinado ao nome de A Miraculosa Nuvem de Fumo, no qual Almeida Garrett, ao contrário dos cientistas dos observatórios de Lisboa e de Coimbra, defendeu não tratar-se de um fenómeno natural e, por isso, não explicitável através do recurso às leis da Natureza, como é o caso do movimento de rotação do Sol, que anotou de forma minuciosa[ii]. Bruno Cardoso Reis refere que, apesar de o sábio conimbricense justificar a sua "crítica pela defesa do dever do silêncio total, não deixou de tomar uma posição de defesa do milagre do Sol".[iii]. Na realidade, Garrett não só defendeu a ocorrência do designado Milagre do Sol, como nele acreditou e mais ainda, ajudou a divulgar, de acordo com a Documentação Crítica de Fátima, o sucedido naquele dia 13 de Outubro de 1917, tendo-se tornado ele próprio um devoto de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e um divulgador do fenómeno. [2]
Declarações do astrónomo Frederico Oom[iv] ao jornal “O Século”[v] sobre o fenómeno solar ocorrido no dia 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria.
Publ.:”O Século”, Lisboa (edição da tarde), 18 Out. 1917
ECOS
[…]
O CASO DE FÁTIMA
Interrogado sobre os fenómenos cósmicos de que milhares de pessoas dizem ter sido testemunhas em Fátima, perto de Vila Nova de Ourém, um astrónomo ilustre, o Sr. Frederico Oom, teve a extrema gentileza de nos responder o seguinte:
- A ser um fenómeno cósmico, os observatórios astronómicos e meteorológicos não deixariam de o registar. E eis precisamente o que falta: esse registo inevitável de todas as perturbações no sistema dos mundos, por mínimas que sejam. Já vê …
- Fenómeno então – interrompemos – de natureza psicológica?
- Porque não? Efeito talvez, sem duvida curioso, de sugestão colectiva. Em qualquer dos casos completamente alheia ao ramo da ciência que eu cultivo …[3]
Recentemente (Maio de 2012), o Observatório de Coimbra, em nome do director do Observatório Astronómico de Coimbra, João Fernandes, respondeu-me gentilmente a algumas questões relacionadas com o “Milagre do Sol”, na Cova da Iria
Q1. Existirá algum fenómeno natural (astronómico ou meteorológico) que dê a ilusão do sol andar à roda (com subida/descida) e com variações de temperatura?
R1. Um eclipse total do Sol provoca uma diminuição da temperatura, cujo valor varia de caso para caso, mas que pode atingir 3 ou 4ºC. Desconheço qualquer fenómeno natural que provoque movimentos do Sol, abruptos e visíveis a olho.
Q2. A queda de flocos (fibralvina) é um fenómeno cientificamente comprovado? É um fenómeno registável pelos observatórios, da actualidade e em 1917?
R2. Tanto quanto me pude informar junto de Colegas Geofísicos, não há qualquer evidência observável de fibralvina.
Das informações pesquisadas e apresentadas aqui, não consigo chegar a nenhuma explicação científica do que terão visionado, nem do que relatam as pessoas na Cova da Iria, a 23 de Outubro de 1917.
Terá havido algum fenómeno metrológico ou astronómico? Estudiosos e centros de observação dizem que não! Terá sido ilusão colectiva? Terá ocorrido de facto o “Milagre do Sol”, ou haverá outra explicação?
O leitor tirará as suas próprias conclusões!
Bibliografia
[1] Observatório Astronómico de Lisboa
[2] Agradece-se a informação científica disponibilizada por Vasco Jorge Rosa da Silva, investigador em História Local-Regional, Militar e da Ciência.
[3] Das aparições ao processo canónico – I (1917-1918), pág. 304, Doc. 124 1917-10-18, Lisboa. Gentilmente Fornecido pelo Observatório Astronómico de Lisboa
[4] Observatório Astronómico de Coimbra
Bibliografia da consultar - El baile del Sol : historia de Fátima para adultos, escrito por Manuel Eladio Laxe de 1986
[i] C. Barthas, La Virgen de Fátima, Madrid, Ediciones Rialp, SA, 2004, p. 142.
[ii] Costa Brochado, As Aparições de Fátima, Lisboa, Portugália, 1952, p. 118.
[iii] Bruno Cardoso Reis, "Fátima: a recepção nos diários católicos (1917-1930)", in Separata de Análise Social, vol. XXXVI, 2001, p. 266.
[iv] Nasceu a 9 de Abril de 1864. Astrónomo e oficial de Engenharia. Em 1891 foi nomeado para o lugar de astrónomo do Observatório da Tapada da Ajuda. Em 1919 foi nomeado director do Observatório. Deixou uma vasta bibliografia sobre esta especialidade. Faleceu a 30 de Abril de 1930.
[v] Cf. Doc. 3, de 23 de Julho de 1917, nota 1.